10 mitos sobre o câncer de mama

A muito tempo quis escrever um texto sobre os mitos que envolvem o câncer de mama. São narrativas que nada tem de inocente e que não contribuem para nossa cura e para a prevenção, para criar as condições de viver sem câncer de mama. Violências que nos afetam antes, durante e depois do tratamento do câncer de mama.

Peço cautela durante leitura se você está no momento delicado da doença, seja no tratamento, seja durante o diagnóstico.

Câncer de mama é coisa de velha

Muita gente ou quase se mostram assustadas quando sabem que tive câncer de mama no início dos meus 30 anos. A frase sempre a mesma: mas você era muito nova! Acontece que o câncer de mama não escolhe idade, na verdade está relacionado com o fato de a pessoa que o desenvolve ter… Mamas.

Na realidade a doença é muito rara até os 18 anos, se tornando comum após essa idade. Inclusive existem pacientes que entram na casa dos 20 anos e logo descobrem a doença. Você se sentir mais confortável, comece a fazer o seus exames já nessa época, sobretudo se tiver histórico na família. Você poderá sofrer alguma resistência dos médicos, mas o mais importante é o seu bem-estar físico e emocional.

Câncer de mama só afeta mulher cis

O câncer de mama não é exclusivo de mulheres cis, ainda que nós sejamos as grandes afetadas. É extremamente aconselhado que tanto mulheres trans quanto homem cis e trans façam o exame se tem histórico na família, sentem algum mal estar físico ou querem simplesmente iniciar uma rotina de cuidados se estiver ao seu alcance.

Ainda que para cada 100 mulheres cis, uma mulher trans ou homem cis desenvolvam a doença, é preciso ficar atenta aos sintomas, que sempre são os mesmos: inchaços, presença de líquidos, nódulos e caroços com ou sem dor. Qualquer mudança na cor e na textura da pele precisam ser investigados assim como mamilos que mudam sua forma. A coceira persistente também deve ser um sinal de alerta, assim como ínguas ou inchaço nas axilas.

Confie nos seus instintos

Tive de batalhar por um ano para ser ouvida e convencer o mastologista que algo não estava bem. Para minha infelicidade todas as mamografia as convencionais apontavam que estava tudo bem com a minha mama, enquanto sabia que havia algo de errado. Os médicos acreditavam que eu estava somatizando e só perceberam que eu estava certa após o exame de mamografia digital.

Por isso esteja preparada para enfrentar os médicos caso acredite que algo está errado, para se fazer ouvir quando precisar de exames complementares, para que o machismo, racismo e a transfobia não se coloque entre você e a sua cura do câncer de mama.

Câncer de mama não dói

Esse foi um dos argumentos que eu ouvi quando o médico queria me convencer de que eu estava bem. Mais tarde o próprio médico me diria que ao redor do meu tumor foi formada uma inflamação que, para minha sorte, sinalizava que algo não estava bem meu corpo.

Sim câncer de mama pode doer. Ou não. Mas você saberá disso melhor do que ninguém. Mais uma vez, qualquer caroço ou nódulo, com ou sem dor, merece atenção. Qualquer alteração na sua mama, com o sem dor, merece toda atenção. Cada uma de nós pode apresentar sintomas únicos, toda atenção é pouca.

Todo câncer de mama é igual

Isso nos leva a questão de que todo câncer de mama é diferente. Nem sempre estamos falando da mesma doença, da mesma causa, dos mesmos sintomas, da mesma gravidade. É por isso que nem todo câncer de mama é uma sentença de morte, afinal ainda precisamos considerar a tecnologia, o acesso ao tratamento, a disponibilidade em fazê-lo.

Nem todo câncer de mama igual, isso também é muito importante de ser repetido quando estamos em tratamento. É comum que a gente pergunte para as amigas o que o médico receitou, com que frequência e como. Isso nem sempre é bom porque aquilo que foi receitado para amiga não necessariamente deverá ser benéfico para você.

Angelina Jolie (nem sempre) está certa

Você lembra quando Hollywood parou por causa do diagnóstico de câncer de mama recebido por Angelina? Existe algo muito bacana nesse efeito, que é a compreensão de que o câncer de mama pode ter o marcador genético. A minha família por exemplo é muito parecida com a da atriz norte-americana. Se esse também for o seu caso, fique atenta e inicie seus exames preventivos assim que possível.

Outra coisa que atriz levantou foram as cirurgias preventivas, como a retirada dos ovários e outros órgãos. Mais uma vez vale a regra de que nem todo câncer de mama é igual, nem toda paciente. No meu caso fui aconselhada a deixar essa ideia de lado. Simplesmente porque isso poderia fazer com que alguns processos indesejáveis fossem iniciados.

Todas as mulheres foram quimioterapia

Nem todas as mulheres farão quimioterapia, nem todas as mulheres foram reconstrução das mamas, nem todas mulheres foram cirurgia. O câncer de mama é o termo guarda-chuva para falar de muitas doenças, que tem como o fato de acontecer nas mamas, mas que nem sempre respondem da mesma forma ao mesmo tratamento, que nem sempre demandam o mesmo remédio.

Procure se informar com seu médico ou médica antes de qualquer coisa. Sei que muitas vezes buscamos informação na internet, mas isso nem sempre o mais adequado. Porque aquela informação não foi personalizada para você, para o seu estado neste momento e para suas condições de acesso ao tratamento e tantos outros fatores.

Ser feliz previne o câncer de mama

De todas as violências simbólicas contra as mulheres com câncer de mama, essa talvez seja uma das mais agressivas, achar que basta ser feliz para não ter que se deparar com diagnóstico desfavorável. Ao meu ver, isso serve apenas para fazer com que nós tenhamos culpa. O que é ainda mais violento no caso de pacientes com transtornos afetivos ou de personalidade que desenvolvem a doença.

Entre os principais fatores de risco para doença está o tabagismo, o consumo desenfreado de álcool, uma limitação des regrada e baseada em produtos de origem animal, marcadores genéticos. Mas não a raiva e a tristeza. Obviamente o bom-humor durante tratamento é bem-vindo, mas é preciso humanizar o tratamento para entender que os momentos de raiva tristeza também são necessários.

A culpa é sua!

Se é um dos mitos mais cruéis sobre o câncer de mama. Muitos fatores alimentam essa violência, como aquela que diz que a depressão causar câncer ou que você não fez o bastante para não desenvolver a doença. Saiba que não há nada que você possa ter feito que justifique essa cobrança. Não compre essa culpa, jamais.

Até mesmo porque qualquer um pode desenvolver a doença, até aqueles que levam a vida mais saudável, tem rotinas de auto cuidado bastante extensas e exaustivas. Procurar entender sobre o seus diagnóstico mas não faça disso motivo de culpa, ela não te ajudará a passar com tranquilidade por esse momento.

Não vai acontecer comigo

Esse é um mito que se apoia no falso sentimento de segurança que muitas mulheres sentem. Talvez se considerem muito novas, muito saudáveis, deixando de lado os históricos familiares. Essa postura é muito perigosa, porque nos faz pensar que está tudo bem e de que estamos protegidos. Porém isso nada mais é do que uma miragem.<

Entendo completamente, tem coisas que a gente nem quer pensar. Mas te aconselho a se sentir segura de outra forma, através de exames preventivos. Faça sua mamografia assim que sentir que é necessário, lembrando que a faixa de referência é de 40 anos. São exames simples e que podem ser realizados anualmente, sobretudo para aquelas que tem histórico familiar ou estão expostas ao tabagismo.

Gostou?

Faça seu exames em dia, fique longe do tabagismo, beba com moderação. Mantenha a cuca fresca, porque isso é um fator muito importante de auto cuidado. Que tal falar agora sobre sua saúde mental? Vem com a gente nesses pontos sobre como cuidar da sua mente, para que ela esteja sempre afiada e confiante.<

Imagem de destaque: For Harriet

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