A humildade diante das fraquezas é o que poderá com alguma sorte nos fazer um pouquinho melhores no dia de amanhã. Que a bipolaridade não nos desumanize, nem o estigma que ela carrega. Nós merecemos nossa própria consideração e cuidado, merecemos nosso próprio amor e uma vida boa e longa. É nisso que acredito mesmo nos piores momentos.
O assunto de hoje é a bipolaridade. Sobre reconhecer como ela afeta nosso cotidiano, nos tira a vontade de viver. E falo especialmente como mulher negra, mulher de meia idade: como podemos olhar para todas as dificuldades que a doença nos impõe e continuar, devagar mas sempre?
Fico me perguntando como estamos respondendo a esse tempo de tamanha insegurança. Meu desejo era poder falar com outras mulheres que convivem com a bipolaridade e que estão expostas a toda a violência que tem caracterizado os últimos meses. Você está se sentindo ainda mais sozinha?
Quando escolhi defender que “a vida é movimento” estava falando exatamente disso. Sobre fazer do esporte uma deliciosa metáfora para continuar vivendo e bem. Nós merecemos dignidade e respeito, com prazer e felicidade apesar de todo e qualquer discurso e prática de ódio. Por sermos pessoas negras, indígenas, lgbttqia+, por nossa religiões e territórios, por nossa classe social, por qualquer condição de saúde.
Quantas estão expostas a falta de vontade de viver quando precisamos a todo segundo reafirmar que a nossa vida é importante? Mesmo que seja, como disse Mirna Valerio, pelo simples prazer de fazer algo mesmo sabendo que nunca seremos bons nisso? Você tem pensado nisso? Imagino que você só tem pensado nisso.
Esse é o sentido que a escrita tem nesse espaço. Uma tentativa de encontrar a mim mesma e a outros que enfrentam problemas parecidos, como a batalha contra o câncer de mama, os transtornos alimentares e a bipolaridade. É um esforço modesto para que possamos acreditar que a minha vida e a sua valem a pena quando o mundo diz que não.
Esse mês não consegui fazer postagens com a mesma regularidade e qualidade que vinha mantendo. Quero dizer pra vocês que não foi por falta de vontade. Essa é apenas mais uma crise que vem e vai, afinal a bipolaridade não tem cura e é preciso aprender a conviver com o modo como ela afeta o ritmo da vida e do coração. E do trabalho.
No meio disso tudo uma pneumonia que vai e volta. Já nem tenho unhas para roer e isso para mim está sendo um pequeno grande sintoma do não cuidado. A gente não pode se “acostumar” com o que não é bom. Não pode achar que é normal perder o contato com o corpo, condigo mesma, com as coisas que gostamos na vida.
Ainda mais nesse panorama. E por muito tempo me questionei se deveria compartilhar sentimentos com vocês, mas como ser fiel ao que acredito e ao mesmo fingir que está tudo bem? Esse talvez seja o pior que uma pessoa bipolar pode fazer. E é o que estou fazendo desde que parei de tomar meus remédios e me movimentar.
Mesmo que não pareça, estou otimista.
A crise me pegou faz um tempão sem que pudesse perceber mas agora, admitindo que é real e não uma “frescura”, posso reagir. São os momentos de grande tensionamento que nos propiciam grandes oportunidades para mudanças. Balança mas não cai, esse é o lema para essa semana e para os próximos tempos que vem chegando.
Espero voltar na semana que vem com a mesma frequência de postagens. Por enquanto vou curtir a minha dor de cabeça, falta de ar d sensação de frio crônicas. Que nos próximos dias possamos reafirmar o compromisso e o amor pela vida. Espero estar com vocês em breve! Agora está tudo bem e logo vai ficar melhor.
Imagem: BpHope