Bipolaridade: vamos falar desse corre?

A bipolaridade é antes de mais nada uma doença de ordem mental e afetiva, com sintomas e consequências potencialmente incapacitantes tanto para o paciente quanto para sua família e amigos. Mas apesar de sua complexidade, podemos pensar no controle do transtorno por vias medicamentosas e terapêuticas, através do trabalho conjunto de psiquiatra e psicólogo.

É benvindo tudo aquilo que favorece o bem estar psicológico como a oração para quem acredita ou meditação como alternativa para ateus, por exemplo. Ler, passear, estar com pessoas amadas, com um bicho de estimação… Tudo é válido.

Porém, é fundamental adotar um estilo de vida que contempla uma alimentação adequada promovendo nutrientes que vão agir na química cerebral e práticas corporais como massagens relaxantes e exercícios físicos como caminhada, corrida…

Corre que melhora?

Então amarro meus tênis e vou pra rua, e você não me encontrará polindo medalhas, não vai me achar discutindo meus tempos de corrida ou falando sobre os tipos de passada na loja de tênis. Você me encontrará na rua, lutando minha batalha da única maneira que sei. Tenho transtorno bipolar. Corro para viver. Corro para respirar, para me sentir melhor na minha própria pele.

Sofi Crosley

As palavras de Sofi são o tipo de coisa que demonstra um ponto muito interessante. Nem tudo sobre a nossa saúde depende de nós, mas existe uma variável que somente a gente “domina”. Pra mim é a decisão de estar ou não disponível para o tratamento, seja ele qual for, quando se está em condições pra isso. 

Então “só” correr não melhora, mas ajuda de um tanto que vou te contar… Eu mesma me esqueço disso, por isso me esforço para contar para vocês e até mim mesma. Ainda mais porque os efeitos do “milagre” duram apenas um dia. Amanhã é preciso recomeçar tudo de novo..,

Bipolaridade, Um sentimento de menos valia

Esses tem sido os pilares do meu tratamento há 3 anos. Há alguns problemas graves que ainda se manifestam, como a falta de memória e troca de palavras (coisa chata viu) mas muita coisa melhorou. Não tenho mais pensamentos suicidas, que em algumas ocasiões duravam semanas. Isso não significa por exemplo que estou imune às crises, mas que consigo lidar com elas de outra maneira. 

Quem me viu às 22 horas de ontem jantando calmamente com meu companheiro, não imaginaria que horas antes tive uma crise monstra de humor, oscilando entre mania e tristeza a cada 30 minutos e sem forças para nada.

Tudo começou quando estava pronta para sair, já com tênis de corrida no pé. Foi quando passei a me sentir completamente diferente. Se me pedissem para explicar, talvez o único modo seria de descrever um sentimento de completa menos valia. 

Você se sente desimportante, um sentimento de autoproteção em outro polo. Você não acredita que pode fazer coisas corriqueiras ou executar tarefas que são realmente difíceis como um treino, outras que não são coisa de outro mundo. A bipolaridade é assim.

Sua equipe contra a Bipolaridade

Meu companheiro ficou comigo durante alguns minutos, incentivando. Mas foi quando minha filha se ofereceu para ser minha equipe de apoio durante o treino, que a coisa realmente mudou de figura. Juntas tínhamos um objetivo em comum e combinamos que nenhuma de nós deixaria a outra no meio do caminho. Nessa hora o Rogério sacou que sozinhas não conseguiríamos e se juntou a nós, responsável por fazer a equipe funcionar bem. Saímos os três pra rua.

E antes que me desse conta, já haviam corrido 5K e a meta eram apenas 7K. Foi bastante estranho, até surreal conseguir terminar em 43’50… E sim, conto cada segundo, pra eu mesma lembrar e acreditar que fiz, diferente da Sofi. 

Estat com minha filha, com quem disputei os últimos 500 metros do percurso, foi coisa de outro mundo mesmo. Assim como perceber que a oscilação de humor tão característica da bipolaridade havia ido embora, tão rápido quanto veio.

A equipe, as corredoras e o apoio com hidratação, imagens e segurança.

Remédio sem vacilo

Levar menos de uma hora para “controlar” uma crise pode parecer mágica mas é resultado de tudo o que falei antes. Só correr (ou nadar, pedalar e correr como tento fazer) não resolve isoladamente. Mas pode ser um tratamento quase milagroso se aliado de tratamento com psicólogo/psiquiatra, remédios e toda sorte de práticas de bem estar. Inclusive o desenvolvimento de uma relação espiritual com o mundo, como aconteceu comigo após 20 anos como atéia. E não estou dizendo “ora que melhora”, viu.

Pensar em tudo que te faz bem é regra. Veja o que aconteceu depois da corrida.

Tomei um banho e fizemos uma refeição na mesa como manda o figurino (quem gosta de grelhados levanta a mão). Em seguida não pensei duas vezes: tomei todos os remédios que devia. O lítio, a quietiapina (agora numa dose menor) e o suplemento de ferro, só pra não dar espaço para o azar. Se bem que é tarde da noite e eu deveria estar na caminha, ficar acordada não é muito bacana… Afinal o sono é muito importante pra todo mundo e a gente que é bipolar não é exceção.

Se bem que, sua mãe estar viajando de madrugada num vôo sozinha também é motivo de preocupação…

Você, bipolar

Pois é, mas por onde começa? Muitas vezes fiquei presa na armadilha de esperar estar bem para me cuidar. O que a gente esquece é que todo mundo começa um dia e mais que isso, nem sempre precisa chegar a algum lugar. Para mim, as grandes inspirações fitness não são as mocinhas do instagram, mas as senhoras da minha academia. Muitas vezes com dores, baixa mobilidade mas firmes e fortes na piscina. Isso pra mim é foco, força e fé (nunca sei se escrevo isso direito, rsrsrsrs).

Então não espere estar no peso certo, até mesmo porque o seu número adequado pode estar completamente fora dos padrões da indústria fitness. Não se importe se você não tem o condicionamento de uma atleta, coisa que te pergunto – que atleta? A única coisa que você precisa fazer é escolher uma alternativa de baixo impacto para sair do sedentarismo, caso precise. Se alimentar, dormir bem. Tomar seus remédios. Ir ao médico. Fazer qualquer coisa que te faz bem.

Fácil? Não é. Mas pode ser divertido!

Diário da semana até aqui

  • 5 dias sendo vegana, mas patinando no low carb por causa da rapadura
  • Segunda: Musculação + Corrida com 9K a 56 minutos (4 x 2K fortes)
  • Terça: Musculação + Natação (300m de aquecimento, 300m 3×1, 200m braços alternados, 100m peito, 4x100m forte com 20′ de descanso,100m costas) em 40 minutos
  • Quarta: Pneu da bife furou, saco!
  • Quinta: 7K em 43’50

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