Como se escreve sobre isso mesmo? Bem o #SetembroAmarelo passou e com ele um pouco da minha saúde mental. Foi quando “de uma hora para outra” passei a enfrentar um estado de coisas que tinha “ficado” para trás há algum tempo. E tanto eu como meus familiares certamente tínhamos nos “esquecido” de como era.
Bem, um dia eu era uma gatinha triatleta quarentona das redes sociais e no dia seguinte, não mais. E nunca tinha ouvido falar de depressão contente.
Depressão contente, discreta e insidiosa
Tudo começou com uma discreta desregulação do remédio e depois da alimentação, colateralmente. Comecei a comer farinha com gordura, alternando entre doce e salgado. Por exemplo? Bolo e pizza, sempre. Acabei inevitavelmente ganhando alguns quilos que passaram a fazer diferença para minhas artroses no joelho e também mexeram com meu equilíbrio hormonal e emocional. Aos poucos, tomar sorvete era muito mais gostoso que fazer exercícios ou comer nutrientes de verdade para alimentar a mente.
Isso não é ruim se não te faz mal, mas no meu caso… Estar acima do peso significam dores diárias, perda de mobilidade severa e com o tempo, mal humor crônico. Os períodos pré-menstruais ficaram mais severos, com alterações de humor ainda mais significativas. Além de dores do corpo, vieram as dores da mente. Fazer exercícios se tornou um grande desafio, mas nunca deixou de valer a pena porque segurava todos os sintomas.
Eu ainda podia rir. Tudo bem!
(…)
Some a isso um pouco de estresse no trabalho. Aquele que num primeiro momento faz a gente sentir uma adrenalina boa, se considerar útil para a vida e para o universo. Mas de repente se comunicar com as pessoas se tornou custoso, cada e-mail a ser processado mais um problema de física quântica na fila do pão.
Um pouco pior a cada dia
Em seguida foram os dias sem cuidar da limpeza da casa, depois a própria higiene. Não estava mais trocando de roupa de duas a três vezes por dia, muito menos fazendo as unhas, escovando os dentes depois de comer. O banho deixou de ser um compromisso bom. Maquiagem? Nem sei mais o que é isso.
Vieram os dias dopada… Um, dois, três. Agora mais um se faz necessário. Não sem antes desativar a conta do Instagram, fechar o Messenger e sair de alguns grupos do WhatsApp. Chegamos a reta final, o isolamento que se faz persistente. Nada mais me tira de casa. Nem da cama. Aliás, é aqui que estou agora.
Durante todo esse tempo o mais curioso é que eu estava sorrindo.
Logo subestimei tudo. Tudo aquilo que já conhecia de cor e salteado. Enquanto houvesse um sorrisinho besta na minha cara, estaria tudo bem. Só que não. Acabo de ler um artigo que me fez entender que estou vivendo uma depressão contente, com bastante surpresa.
Olhando para trás é tão óbvio. A gente acredita que todo sorriso é feliz, que ele é o mais importante que tudo. O sintoma da felicidade. Você pode estar sem vontade de sair de casa, tomar banho, comer direito. Estar há semanas sem ir na terapia. Não conseguindo mais sociabilizar com as pessoas. Desde que consiga rir, mesmo que seja falso, está tudo bem!
Como ajudar?
Mas como eu, que estou de fora, posso entender e ajudar? Ou ainda, será que eu também estou vivendo uma depressão contente?
“Se você tem uma amiga que de repente para de responder a seus telefonemas e mensagens, cancela planos, não hesite em perguntar o que esta acontecendo e se ela está se sentindo bem. Ou a convide para uma atividade simples que possam fazer juntas quando você possa dizer que ela pode ser ouvida ou não está sozinha.”
Talvez o mais importante sobre a depressão contente seja perceber que ela é como uma máscara. Se você sente que precisa ser feliz todo tempo para que as pessoas te amem e te aceitem, atenção. Se o outro nunca muda de humor, exibindo a mesma cara feliz para todo tipo de acontecimento é ocasião, sinal amarelo.
No momento em que escrevo minha mãe está na minha casa mas não consigo socializar com ela. Só quero tomar mais um remédio e dormir como se não houvesse amanhã. É como morrer por algumas horas, alguns dias… Mas não vou tomar mais um remédio, vou tomar meu primeiro banho em dias.
Imagem: The body is not an apology.