Dieta vegetariana, esse mistério para muita gente.
Antes de falar sobre o assunto, preciso dizer que meu objetivo não é que você se sinta atacada pessoalmente por comer queijo, carne ou qualquer outro alimento. Aliás, que o movimento ao contrário também seja verdade. Que nem você e nem eu sejamos mais ou menos respeitadas por causa de nossas dietas. Não há nada de exotérico em não comer proteína animal, assim como não há motivos para se atacar uma mulher negra apenas pro sua dieta.
Digo isso porque é mais comum do que se pensa e não estou de modo algum falando com você que entende isso. É que, assim como muitas pessoas brancas entendem que falar de racismo é pessoal, muitas pessoas que comem carne pensam que é sobre suas vidas pessoais e partem para o ataque. É bastante curioso como as pessoas reagem com violência quando confrontadas com suas contradições.
Mas esse não é o momento e nem lugar para isso.
Escrevo porque que me interessa falar sobre ser vegetariana enquanto mulher negra e mostrar que é possível ter uma dieta vegetariana barata e gostosa, sem frescuras e “dificulidades”. Não é tão difícil e cara quanto parece, na realidade pode ser muito fácil e barata.
A primeira coisa a ser dita é que a dieta vegetariana foi sistematizada e estudada por sociedades brancas e europeias mas isso não quer dizer que tenha sido inventada por elas. Isso é uma grande mentira. Pensando apenas em terras brasileiras, podemos ver que muitas comunidades tradicionais são pisco-vegetarianas por exemplo, comendo como proteína animal apenas o peixe.
Como lacto-vegetariana (existem muitos tipos de vegetarianos, insisto) que ainda consome queijo, sempre procuro entender o que isso significa para meu corpo, família e também para os animais e meio ambiente Essa é uma pequena contribuição nesse sentido, pensando também em você que quer ser vegetariana mas está um pouco perdida nesse mar de informações que nem sempre conversam com pessoas como eu e você.
Câncer e a dieta vegetariana estrita
Tenho sido lacto-vegetariana há pelo menos dez anos. Porque não consigo deixar de comer queijo.
Sabendo exatamente de que essa não é de fato uma boa escolha para meu organismo, pois carrego mutações genéticas que me programam para desenvolver câncer. Consciente de que se trata de uma relação que violenta animais, inclusive por serem fêmeas. E por um tempo, consegui “conviver” com essas contradições (porque não temos a obrigação de dar conta do universo por sermos mulheres negras e ativistas) quase que me “fazendo esquecer” que existem consequências em se escolher uma dieta vegetariana ou não.
Duas coisas chamaram minha atenção, aqueles detalhes que a gente conhece mas por um momento deixa de lado. Em primeiro lugar o fato de Angela Davis ser uma mulher vegetariana e o recente debate contra o sacrifício de animais no candomblé. Além disso, meu paladar começou a recusar queijo de tanto que consumi o produto, confesso. Aproveitei essa conjunção de coisas para repensar minha dieta vegetariana.
O queijo é de fato delicioso. E na realidade, viciante. Isso porque na sua “fórmula” existe uma substância chamada caseína, que é aparentada da cocaína. Vale lembrar que a caseína é usada inclusive como suplemento alimentar por alguns atletas. Porém, não é considerada inofensiva por todos os especialistas. E aí o que vale é sua opinião sobre o assunto, levando em conta suas necessidades.
Alguns defendem que “a caseína corresponde a aproximadamente 80% das proteínas do leite, que você encontra nos supermercados e padarias. Iogurtes e queijos são riquíssimos em caseína. (…) É um composto inflamatório e tóxico ao nosso organismo, sendo inclusive relacionado ao aumento na incidência de câncer e doenças autoimunes.”
E não acaba por aí…
Uma matéria no Globo Esporte afirma que “tudo começou em 2011 (embora a galera vegetariana já soubesse) quando o departamento de nutrição da universidade de Harvard nos EUA limitou o consumo de leite e seus derivados na sua nova pirâmide alimentar. A notícia foi como uma “bomba“ no campo da nutrição. Uma das causas dessa limitação ao leite seria devido a existência de alguns estudos que correlacionam o consumo do leite com câncer de mama e de próstata.(…) O leite é um alimento rico em cálcio, mas a afirmativa de que ele previne osteoporose é extremamente controversa.”
Mas e o que eu e você fazemos com essa informação?
Dieta vegetariana: a vida sem leite e derivados
A vida sem leite e derivados ou seja, uma dieta vegetariana estrita, é não só possível como desejável. Não consumir produtos de origem animal, mesmo os mais deliciosos como queijo, é também pelos animais (nem entramos aqui no sofrimento animal que a indústria leiteira envolve) mas pela saúde de pessoas como eu e você. Se trata de viver mais ou menos, simples assim.
É uma maneira de também buscar uma jeito novo de se alimentar, desintoxicando sua mente e seu corpo. Como disse, dietas vegetarianas não são um produto de sociedades europeias. Trago o exemplo de minha própria família que era predominantemente pisco-vegetariana, mudando para proteínas de outros animais somente em caso de insegurança alimentar.
Deixar de comer proteína animal é uma oportunidade para entender quem está comendo o quê e por que motivos. Não há motivos para não tentar se desconstruir também na hora de comer, desde que seja uma decisão sua. Nenhuma dieta vegetariana deve ser adotada se não tem a sua cara e supre as suas necessidades nutricionais, emocionais, militantes, éticas e econômicas.
Se você pensa em deixar de comer queijo e é lacto-vegetariana como eu, vai ser relativamente fácil porque você possivelmente já percorreu um longo caminho até abandonar o queijo. Se você por acaso quer ser vegetariana, pode começar deixando de tomar leite, usar manteiga e comer queijo. Essas delícias “inocentes” mas que podem ser verdadeiros vilões para a sua saúde. Pode ser um lindo início para entrar para o clube dos vegetarianos.
Aproveite a ocasião para consumir mais folhas como espinafre e taioba, legumes verdes como brócolis e sementes de gergelim, linhaça e também aveia, excelentes fontes de cálcio. Lembrando que vegetarianos não tem maior ou menor possibilidade de terem anemia por não consumirem produtos de origem animal, é científico.
E se quiser saber mais, cola aqui que tem mais posts sobre dietas. E bons treinos para todas nós!
Imagem: The Independent
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