A diversidade no triatlo é um assunto sério.
Quando você faz com que o esporte pareça algo que você pode fazer, pois alguém que parece com você faz isso, então é mais fácil se interessar pelo esporte.
Max Fernell
#paratodomundover Retrato do triatleta Max Fernell, um homem negro, vestindo camiseta, shorts, capacete e óculos de ciclismo, sobre sua bicicleta de estrada.
Comecemos pelo fato de que existem muitos motivos para que uma pessoa se dedique ao triatlo. Alguns ficam fascinados com a ideia de provarem a si mesmos que podem superar qualquer obstáculo. Outros buscam simplesmente cruzar a linha de chegada para que se sintam vivos. Dessa forma fazem do triatlo a metáfora para continuar lutando contra o câncer, talvez almas e corações desalinhados. Há quem se motive pela saúde, bem-estar e diversão.
Entretanto, antes de tudo o triatlo é um Esporte.
Algo que de alguma forma deveria elevar nossos espíritos em direção a um mundo diferente. Podem dizer que sou ingênua mas acredito na diversidade no triatlo como uma oportunidade única de mudar o mundo à nossa volta. Acredito na mudança embora saiba que nada será diferente por causa de uma única mulher negra de meia idade lutando com o transtorno bipolar.
Mais pessoas negras
Promover diversidade no triatlo com a participação de pessoas negras, sobretudo as crianças, é uma oportunidade que não pode ser perdida. Assim poderemos construir um futuro menos sombrio para o esporte e quem sabe para nossa própria sociedade. Acreditar que podemos continuar a praticar o esporte sem refletir sobre o que isso significa é uma ingenuidade, alienação ou conivência com o que está posto.
A única coisa que separa uma mulher negra de qualquer outra pessoa é a oportunidade.
Viola Davis
#paratodomundover Viola Davis com um vestido branco,cabelo curto e um fundo branco e vermelho diz que a única coisa que separa uma mulher negra de outra pessoa é a oportunidade.
Afinal cada uma das modalidades oferece caminhos que podemos seguir em busca de nós mesmos. De uma sociedade melhor para todos e também para aqueles que buscam as perspectivas das águas abertas. O vento no rosto que nos faz respirar quando sentimos enclausurados, a sensação de ir cada vez mais longe.
Consigo e com todos os outros. Mesmo que o triatlo seja um esporte individual, ainda precisa de todos os outros que vão encarar a linha de largada junto com você. Investimos tanto tempo, dinheiro e emoção que não consigo acreditar que não se vislumbra do que realmente se trata.
Em busca da diversidade no triatlo
Contudo sem o comprometimento de atletas e empresários estamos longe de alcançar a diversidade no triatlo. Pois aquele esporte que sempre teve como material a coragem se tornou um mercado que separa atletas e aspirantes entre quem terá a oportunidade de ao menos tentar ou não. O que tristemente deixou de lado as mulheres, mesmo aquelas que têm como comprar equipamentos caros, ter uma equipe à disposição e tempo para forjarem seus caminhos.
Por isso o Woman For Tri nasceu como um programa da Fundação Ironman criado em 2015 justamente para pavimentar o caminho de igualdade de gênero no esporte e no mercado. Afinal nós somos uma comunidade, nós somos voluntários, nós somos atletas. Nadamos, pedalamos e correndo pela mudança.
Atletas podem se envolver de diversas maneiras, uma delas era participar de um grupo de facebook que contava com quase 60 mil mulheres até o momento em que foi encerrado. Não sem surpresa, a discussão sobre a diversidade no triatlo não chegou ainda por aqui, apesar de ter sido noticiado em quase todos os lugares.
Um assunto “muito político”
Tudo começou quando as mulheres do grupo passaram a postar sobre igualdade racial e o assassinato de George Floyd, Ahmaud Arbery e o movimento Vidas Negras Importam. Esses posts foram apagados por serem muito políticos pelas moderadoras, mulheres brancas.
“No entanto, enquanto essas postagens e comentários foram excluídos, os membros do grupo notaram que algumas postagens e comentários que desvalorizavam ou menosprezavam o movimento Black Lives Matter permaneceram intactos”, disse Susan Lacke. Afinal quando falamos em diversidade no triatlo o que isso quer dizer?
Meredith Atwood uma das moderadoras disse que “este não é o fórum para discutir questões políticas / sociais controversas. Essas postagens serão removidas.”, o que demonstra que o Women For Tri jamais alcançou ou teve como propósito contribuir para que o mundo entendesse a importância da igualdade de gênero. E o mais importante, o que ela de fato implica quando menos de 1% de seus competidores nos Estados Unidos e Canadá, ou clientes como queiram, são negros.
Pessoas negras e a diversidade no triatlo
É decisivo que mulheres brancas se posicionem como antirracistas, fazendo uso inteligente de seus privilégios para que as vozes de mulheres negras sejam ouvidas e possamos pensar em um esporte mais inclusivo. Os desafios são enormes. Pessoas negras precisam conhecer o esporte, ter condições de praticá-lo e finalmente fazer isso sem sofrerem violências de toda sorte.
Para que possamos falar em diversidade no triatlo precisamos também que as vozes de mulheres negras triatletas ao redor do mundo sejam consideradas. Certamente não somos muitas mas podemos fazer toda a diferença. O triatlo para mim é uma das ferramentas que persigo por acreditar que ela pode me ajudar a enfrentar o transtorno bipolar e o câncer assim como o racismo, e por isso, é também pela vida. Ainda que de uma única mulher negra.
Certamente a dificuldade de encontrar imagens de mulheres negras nadando, pedalando ou correndo é o exato termômetro de como ainda precisamos percorrer um longo caminho até que a diversidade no triatlo seja uma realidade. E como não temos tido a oportunidade ao menos começar nossa jornada. Por exemplo, onheço menos de 10 pessoas negras que se envolveram com o esporte e nunca tive o privilégio de treinar e socializar com nenhuma delas.
A comunidade precisa ter coragem e aprender
Antes de o grupo ser fechado, a Fundação Ironman declarou que iria investir um milhão de dólares criando um comitê. O objetivo seria dar voz à seus colaboradores e desenvolver formas de se tornar uma organização mais inclusiva; “Estamos no início. Temos muito que aprender. Tencionamos ouvir atentamente e pedir ajuda para encontrar o caminho certo para a frente.”
A esperança é a melhor escolha.
Obama
#paratodomundover Presidente Obama vestido de uma camisa cinza com dua spessoas negras atrás e uma branca. Ele diz que a esperanlça é a melhor escolha.
Assim esperamos que a fundação e toda a cadeia produtiva que movimenta a comunidade e o mercado compreenda que a mudança começará através do diálogo com aquelas que foram silenciadas e com elas todas nós, mulheres pretas de todo o mundo que sonham com o triatlo. Uma posição antirracista será primordial no mercado esportivo daqui para a frente, a menos que o intuito da fundação seja exatamente outro, tanto lá fora quanto aqui no Brasil.
A mudança é possível
- Invistam em atletas profisisonais e amadores, treinadores e comunicadores.
- Priorizem a inclusão de crianças negras no trialto.
- Criem oportunidades de trabalho significativas e influentes na decisão do futuro nas empresas, fundações, equipes e associações nacionais e internacionais.
- Promovam parcerias com marcas esportivas que compreendam a importância de pensar a diversidade no triatlo com a participação de pessoas negras.
O triatlo não será capaz de mudar uma cultura racista, muito menos promover uma mudança profunda em nossa sociedade em curto prazo. Ainda assim, sabemos que o esporte é parte do problema, portanto é sua responsabilidade fazer parte da solução. Nossa comunidade precisa estar ciente e comprometida com isso, caso contrário estará do lado errado da história.
Precisamos acreditar que a mudança é possível.