Jejum intermitente não combina com compulsão alimentar

Jejum intermitente é um assunto muito necessário em tempos de low cara e instagrammers falando sobre emagrecimento e dietas. Então antes de tudo, preciso começar contando a relação muito próxima que tenho com o tema. E também ouvir sua estória,

Fui diagnosticada com transtorno alimentar em 2009, mas poderia dizer que tudo começou bem mais cedo. Sair da casa dos meus pais foi um gatilho para o problema. Até então, a comida era uma boa diversão mas não passava todas as horas do meu dia pensando nisso. Havia os dias de festas, com banquetes de torta e suflê de camarão, as carnes mais variadas (sim, eu era uma carnívora das boas), muito refrigerante (quando era possível) e com alguma sorte, potes de sorvete!

Nos dias comuns, não pensava em comida como prazer, não fazia sentido falar com controle de porção, carboidratos, calorias. Minha relação era funcional. Meu peso jamais oscilava, não era uma questão e sequer tinha ouvido falar de jejum intermitente! Aliás, naquela época não havia ingredientes mágicos e muito menos dietas da época. A gente só queria saber de comer comida do Maranhão, como torna de camarão!

Jejum intermitente?

Mas isso mudaria com minha primeira viagem ao Maranhão. Em um mês engordei cinco quilos. Coisa que foi recuperada rapidamente. Não segunda engorda, foram 20 quilos em 6 meses. No meu último período foram quase 50 quilos a mais em 2 anos. Depois emagrecia, sempre com distas e exercícios. Foram nessas indas e vindas que comecei a pensar emagrecer, as mais inimagináveis formas de purgação.

Mas porque estou falando disso? Para falar sobre meu transtorno alimentar que, como todos os outros, pode ter uma cara diferente dependendo da época. Por exemplo, já fiquei semanas sem comer, em outras vezes fui diagnosticada como vigoréxica, há momentos em que sofro de compulsão alimentar. A bulimia é caracterizada por comer muito em pouco espaço de tempo e depois expulsar a comida de si.

É quase um sentimento de inadequação, de impossibilidade de estar no mundo. Falando especificamente da bulimia, se formos tratar aqui de diagnósticos, posso compartilhar contigo que ela não combina com o jejum intermitente. É como trocar seis por meia dúzia, porque ficar sem comer pode muito rapidamente se tornar passar fome, o que garante que esse hábito nada mais é que outra face da compulsão alimentar?

Jejum intermitente. Crédito: Valet Mag.
Jejum intermitente. Crédito: Valet Mag.

Jejum intermitente não é passar fome, saiba a diferença!

A grande diferença entre passar fome e o jejum intermitente é que na hora da fome, você obedece o que seu corpo manda. Outra coisa que é muito diferente é aquele indesejável sentimento de culpa, que não acontece no jejum. E o mais importante, se depois de muito tempo jejuando você passar a comer compulsivamente, muito e muito rápido, pare. Esses são ótimos termômetros para se chegar a um bom equilíbrio. 

Quero dividir com vocês algumas dicas sobre o que você precisa pensar para entender melhor como seu corpo funciona. São detalhes muito simples que podem te ajudar a preservar sua saúde e não colocar em risco sua rotina de autocuidado. Espero que ajudem você a se conhecer melhor.

01. Nunca comece uma nova dieta sem a orientação de um médico, ponto final. O jejum intermitente pode ser um tremendo gatilho para transtornos alimentares como bulimia e compulsão alimentar, quanto mais longo é o tempo sem comer isso piora. Então ao invés de atingir seu objetivo, você pode mirar em algo completamente diferente.

02. Além disso, o jejum intermitente pode ser facilmente confundido com comportamentos anoréxicos. Emagrecer passando fome é diferente de ficar sem comer e não passar fome. Essa é a diferença. Você não vai comer de mais (ou de menos) quando estiver fora do período sem comer. Você nem vai sentir que está em jejum. Esse talvez seja um dos maiores termômetros.

03. Ainda que vocês tenha todas a sua ferramentas, toda a manha e saiba muito bem colocar os pingos nos “is”, não se sinta constrangida em colocar as mãos para o alto e pedir ajuda. Transtorno alimentar não se cura com dieta, com jejum intermitente. Mas com um conjunto de coisas e comer bem é apenas parte disso.

04. Antes de começar qualquer dieta, tenha a certeza de que você se sente bem com seu corpo como ele está agora, gordo ou magro. Afinal é através dele que muitas inseguranças e opressões se manifestam. Se não estiver bem, pergunte a si mesma o motivo. Pode ser um caminho para que você compreenda melhor quais são seus objetivos e quem é você mesma.

05. O jejum intermitente é uma técnica para quem está em outro momento da discussão consigo mesma, foi aconselhada e está acompanhada por um médico e/ou está completamente livre dos sintomas de transtornos alimentares. Fazer diferente pode agravar seus problemas. E até mesmo colocar sua vida em risco. Isso é realmente muito sério.

Nem tudo é bom para todas e a própria ciência ainda pedala. Alguns médicos recomendam o jejum intermitente, como aconteceu no caso da Betina em sua vitória com a Diabetes enquanto continuam surgindo novos posicionamento, como essa notícia de que a prática na realidade pode provocar a doença.

Antes de mais nada conheça seu corpo, pense com carinho em alternativas de tratamento para transtornos alimentares e converse com seu médico. Se tratar com equipes multidisciplinares costuma ser uma boa oportunidade para vencer esses problemas. Não tente emagrecer quando estiver em crise e se concentre em curar a doença. Isso é o mais importante, sempre. E não se esqueça, boa semana vida é movimento e boa de treino!

Imagem: Adiaesp

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