Você vai concorrer a algum campeonato?

Essa é uma pergunta que muita gente me faz. Não, não vou.

Pra explicar preciso começar pelo fato de que, se tivesse tido a oportunidade, provavelmente seria uma atleta profissional. Nem que fosse de bolinha de gude de carpete. Isso porque cresci vendo campeonato de um tudo com meu pai e ouvindo que aquilo também era para mim. Aliás para nós. Meu pai era um grande corredor, apesar de fazer tudo sem assistência ou conhecimento. Ele é o cara que ainda hoje me dá um caldo no alongamento sabe. Então ter essa pessoa fazendo alongamentos malucos e correndo com muita dedicação, sempre foi uma inspiração.

Fez que a gente imaginar que podia pelo menos tentar ou sonhar, mesmo que isso fosse quase que uma alucinação. E foi assim a minha vida toda. Então, sonhar com o triatlo não é uma modinha, não é um exercício de sofrência, não é algo que resolvi fazer do nada. É a sequência de querer ser aprender a andar de bike aos 4, soltar pipa os 6, sonhar em ser bailarina aos 8, querer participar de competições de aeróbica aos 10, fazer trekking aos 12, achar correr um saco aos 14, esquecer de tudo aos 16… Pra relembrar de tudo depois da faculdade e realizar meu sonho de correr como meu pai.

E isso nunca teve relação alguma com competir, apesar de ser com muita vontade. Ou seja, faço porque amo e me faz bem. Mas porque acredito muito na necessidade de quebrar algumas barreiras. Para nós mesmas, sobretudo. Por um momento quase esqueci disso tudo. Foi aí que me tornei bulímica, que deprimi, que vieram os vícios, o câncer. Um período de nenhum autocuidado, palavra que só aprendi recentemente e ainda estou apreendendo, imaginando que tem muito mais que só movimentar o corpo…

Deve ser um pouco parecido com o efeito que o triatlo tem para mim e para tantas outras pretas. A felicidade de realizar, conseguir, cruzar a linha de chegada. Você não tinha ar mas de tanto correr o pulmão abriu contra a dúvida e o medo. Você simplesmente respira melhor. Não sei se tem droga melhor viu. Então esse campeonato é contra aquilo que a gente não vê, é sobre nadar sem medo, pedalar voando e correr com muita marra. Acho que deve ser isso, porque a gente só sabe quando vai lá e faz.

Pensando bem, se fosse resumir tudo isso em poucas palavras, diria que meu sonho é fazer uma foto dessa que ilustra o post com outras pretas, como está registrado blog de Ovetta Sampson. Isso seria bem mais legal que um campeonato…. Por enquanto, minha meta é menos expressiva – aprender a nadar em águas abertas, deixar o medo de lado e olhar para frente sem afundar. Então vamos lá, que amanhã tem mais.

Porém, em algum momento que não pode demorar muito, irei fazer uma prova sim. Quem sabe duas. O impeditivo não é a falta de vontade. Começa pelo preço. Qualquer um pode se inscrever numa prova de triatlo, mesmo sem ter uma bike speed. Mas custa um cadinho. São em média 400 contos de réis por cada evento. E se a gente fala de ironman, isso vai pra mais de R$1.000,00. Isso sem falar no custo de levar a bike de um lado pra outro, hospedagem se for o caso, equipamento…

Ou seja, sonhar até está sendo possível. Apesar de caro pra dedéu.

Nesse momento meu desafio é outro, não cheguei nesse problema ainda. Estou na fazer um, aprender a nadar em águas abertas. Vencer o medo, entender que é preciso flutuar, esquecer que existe uma coisa chamado frio e outras tantas chamadas microorganismos. Que só é preciso chegar até o bóia e voltar. E que para isso é preciso olhar para frente, não se desorientar e não depender do chão, esquecer que não dá pé…

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